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Centenário Nelson Rodrigues: Dramaturgo profético das relações humanas
sábado, 1 de setembro de 2012 Posted by Silvano Silva ✔


No centenário de Nelson Rodrigues, o público aplaude o escritor. Até décadas atrás era considerado "maldito" por muitos. Marco Antonio Braz, diretor de peças do autor, se diz surpreso ao saber que São Paulo e Rio de Janeiro tiveram teatros lotados. "Entre o eixo Rio-São Paulo nós tivemos vinte teatros com peças de Nelson Rodrigues em cartaz que naquela quinta-feira [dia do aniversário de cem anos do jornalista] estavam lotados, batendo palmas e cantando parabéns a Nelson Rodrigues." 

Marco Antonio acredita que a obra de Nelson precisava de tempo para que os brasileiros pudessem amadurecer diante de suas histórias. "A impressão que eu tenho é que hoje as pessoas desfrutam as peças do Nelson como poesia dramática e compreendem suas tensões e seus dramas independentemente de qualquer relação pessoal que o autor tivesse quando vivo."

Crédito:Divulgação
Nelson Rodrigues se destacou pela polêmicas de suas peças de teatro

Machista, reacionário. Não faltavam críticas a Nelson. "Eu acho que a distância histórica permite uma variação da obra independente do autor." Os temas levantados por Nelson começam a ser compreendidos nos dias de hoje. "Nelson é riquíssimo porque fazia isso com muito humor aquilo que, em um determinado momento, foi encarado como um deboche. Hoje reparamos que é um estilo. Esse humor é que faz com que as pessoas vejam coisas muito duras de uma maneira palatável, mas incômoda."

O palco é o lugar de purgar as coisas incômodas escancaradas por Nelson, diz o diretor. Passam a ser refletidas após o intervalo de muitos anos desde sua publicação. "Com essa distância [histórica] conseguimos ver que não há nenhum vestígio de reacionalismo, seja político, ideológico ou intelectual em toda sua obra. Quando isso aparece, isso está na boca do preconceito do personagem, não do autor."

Ao ter se aproximado da arte do escritor, Marco Antonio se depara com as verdadeiras origens do trabalho teatral dele. "Só mais tarde estudando Nelson fui descobrir que tudo isso inclusive estava embricado nas raízes do jornalismo dele. Não só o repórter policial como o cronista esportivo. E tudo isso vai desaguar no teatro dele." Ou seja, as vocações se dialogam, sem estabelecer segregação, ao contrário do que a literatura, separada das artes popularescas fazia, diz o diretor.

"Talvez ele seja hoje o dramaturgo que melhor criou personagens femininos no século XX. Das 17 peças, em todas há grandes personagens femininos." O diretor acredita que hoje o público compreende a importância do escritor na criação da mulher. Nas peças, Marco Antonio conta que o público aplaude as personagens femininas.

Ao expor os conflitos mais tensos do ser humano, o autor é quase precursor da atual transformação de valores. "O Nelson acaba sendo quase profético em nossas relações. Damos um valor demasiado ao aspecto econômico e não entendemos que a entrada de fato no primeiro mundo passa pela questão fundamental da educação e da cultura". Nesse sentido, Marco Antonio aponta para o reconhecimento de uma necessidade: a de "ingerir cultura profundamente. Não só um trabalho para divertir e para rir, mas que traga algo que faça refletir sobre a vida, o cotidiano e a realidade". Façamos de Nelson o primeiro passo para a reflexão sobre cada um de nós.

* Com supervisão de Vanessa Gonçalves
portalimprensa.uol.com

Silvano Silva ✔

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