Centenário Nelson Rodrigues: Dramaturgo profético das relações humanas
No centenário de Nelson Rodrigues,
o público aplaude o escritor. Até décadas atrás era considerado
"maldito" por muitos. Marco Antonio Braz, diretor de peças do autor, se
diz surpreso ao saber que São Paulo e Rio de Janeiro tiveram teatros
lotados. "Entre o eixo Rio-São Paulo nós tivemos vinte teatros com peças
de Nelson Rodrigues em cartaz que naquela quinta-feira [dia do
aniversário de cem anos do jornalista] estavam lotados, batendo palmas e
cantando parabéns a Nelson Rodrigues."
Marco Antonio acredita que a obra de
Nelson precisava de tempo para que os brasileiros pudessem amadurecer
diante de suas histórias. "A impressão que eu tenho é que hoje as
pessoas desfrutam as peças do Nelson como poesia dramática e compreendem
suas tensões e seus dramas independentemente de qualquer relação
pessoal que o autor tivesse quando vivo."
Crédito:Divulgação
Nelson Rodrigues se destacou pela polêmicas de suas peças de teatro
Machista, reacionário. Não faltavam
críticas a Nelson. "Eu acho que a distância histórica permite uma
variação da obra independente do autor." Os temas levantados por Nelson
começam a ser compreendidos nos dias de hoje. "Nelson é riquíssimo
porque fazia isso com muito humor aquilo que, em um determinado momento,
foi encarado como um deboche. Hoje reparamos que é um estilo. Esse
humor é que faz com que as pessoas vejam coisas muito duras de uma
maneira palatável, mas incômoda."
O palco é o lugar de purgar as coisas incômodas escancaradas por Nelson, diz o diretor. Passam a ser refletidas após o intervalo de muitos anos desde sua publicação. "Com essa distância [histórica] conseguimos ver que não há nenhum vestígio de reacionalismo, seja político, ideológico ou intelectual em toda sua obra. Quando isso aparece, isso está na boca do preconceito do personagem, não do autor."
O palco é o lugar de purgar as coisas incômodas escancaradas por Nelson, diz o diretor. Passam a ser refletidas após o intervalo de muitos anos desde sua publicação. "Com essa distância [histórica] conseguimos ver que não há nenhum vestígio de reacionalismo, seja político, ideológico ou intelectual em toda sua obra. Quando isso aparece, isso está na boca do preconceito do personagem, não do autor."
Ao ter se aproximado da arte do
escritor, Marco Antonio se depara com as verdadeiras origens do trabalho
teatral dele. "Só mais tarde estudando Nelson fui descobrir que tudo
isso inclusive estava embricado nas raízes do jornalismo dele. Não só o
repórter policial como o cronista esportivo. E tudo isso vai desaguar no
teatro dele." Ou seja, as vocações se dialogam, sem estabelecer
segregação, ao contrário do que a literatura, separada das artes
popularescas fazia, diz o diretor.
"Talvez ele seja hoje o dramaturgo
que melhor criou personagens femininos no século XX. Das 17 peças, em
todas há grandes personagens femininos." O diretor acredita que hoje o
público compreende a importância do escritor na criação da mulher. Nas
peças, Marco Antonio conta que o público aplaude as personagens
femininas.
Ao expor os conflitos mais tensos do
ser humano, o autor é quase precursor da atual transformação de valores.
"O Nelson acaba sendo quase profético em nossas relações. Damos um
valor demasiado ao aspecto econômico e não entendemos que a entrada de
fato no primeiro mundo passa pela questão fundamental da educação e da
cultura". Nesse sentido, Marco Antonio aponta para o reconhecimento de
uma necessidade: a de "ingerir cultura profundamente. Não só um trabalho
para divertir e para rir, mas que traga algo que faça refletir sobre a
vida, o cotidiano e a realidade". Façamos de Nelson o primeiro passo
para a reflexão sobre cada um de nós.
* Com supervisão de Vanessa Gonçalves
* Com supervisão de Vanessa Gonçalves
portalimprensa.uol.com




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