Especialistas argumentam que excesso de partidos políticos conduz à corrupção
A
facilidade de se criar partidos políticos e, com eles, receber Fundos
Partidários, participar de eleições e negociar apoios demonstra, segundo
especialistas no assunto, a fragilidade do sistema eleitoral
brasileiro.

No entanto, a quantidade de siglas no
país sugere um pluripartidarismo que, segundo o cientista político e
professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) Eurico Figueiredo, é
falso. De acordo com Figueiredo, a lei brasileira permite muita
facilidade na criação de partidos políticos, o que “parece ser uma
reação à ditadura, que proibiu muitas legendas”. O professor explica
que, dos 30 existentes no país, poucos têm a chance de chegar ao poder.
“A crítica corajosa é de que esse
pluripartidarismo brasileiro é falso e conduz à corrupção. A
licenciosidade é muito grande na formação de partidos. Por outro lado,
isso permite, e leva, à corrupção do sistema partidário, porque essas
siglas são muito mais de conveniência, de aluguel, do que forças que
pretendem representar interesses definidos”, defendeu Figueiredo
Acusações
Este pluripartidarismo permite
coligações como a que apoia o prefeito Eduardo Paes (PMDB) na sua
campanha pela reeleição, que conta com uma coligação com 19 partidos.
Isto faz com que ele tenha o bem mais cobiçado em uma disputa política
atual: o maior tempo de propaganda no rádio e na TV.
Segundo denunciou a vereadora Andreia
Gouveia Vieira (PSDB-RJ), em carta enviada aos seus eleitores na
quarta-feira (19), esta ampla aliança teria sido construída com repasses
de verba pública que compraram o apoio de entidades religiosas ligadas a
partidos políticos.
O que é ideologia?
Ou seja, a aliança esbarra não apenas na
facilidade de se criar siglas partidárias como também na proliferação
de “igrejas” engajadas na política eleitoral/partidária. Com isto,
cria-se alianças sem qualquer compromisso programático ou afinidade
ideológica.
Figueiredo lembra, porém, que a criação
de alianças amplas como esta não constitui nenhuma irregularidade
eleitoral, tampouco é uma exclusividade do prefeito do Rio. Acontece,
inclusive, com o partido de Andreia. “Isso que ela acusa o governo de
Paes no Rio, outros acusam o governo do PSDB em São Paulo”, diz.
Ele insiste: “É lícito as alianças entre
forças políticas distintas. É normal e acontece em qualquer lugar onde
há disputa eleitoral aberta. No Brasil será assim também, pois temos um
sistema liberal democrático”, aponta. “Difícil é dizer o que é ligado
ideologicamente hoje. Há tantos exemplos, como o partido que se diz
trabalhista e, às vezes, não tem nada de trabalhista. Como você vai
dizer se ele é esquerda, direta ou centro?”.
Televisão
A análise é corroborada pela professora
da Faculdade de Comunicação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro
(Uerj) e doutora em Ciência Política, Alessandra Aldê. “O fato de esses
partidos pequenos terem acesso ao horário nobre num total de vários
minutos é uma característica democrática do sistema. No entanto, a
facilidade (de organizar novos partidos) traz partidos “laranjas”, que
não são agremiações políticas mesmo”.
Segundo ela, cientistas políticos que
estudam os partidos têm uma ideia de “partidos válidos”, aqueles que
realmente interferem no processo político. Essa corrente de pensamento
internacional atenta para o excesso de siglas em muitos países, como
Israel e Itália, e defende que somente algumas legendas têm ingerência
efetiva nas decisões políticas nacionais. Com isso, alguns partidos se
tornam “massa de manobra”.
Apesar disso, a professora explica que
essas amplas coligações são feitas para fortalecer as relações políticas
locais. “A política municipal não se dá só na televisão”, argumenta.
Com isso, ela explicita a necessidade, própria do processo político, de
se firmar alianças para obter maioria no Poder Legislativo, no caso do
município carioca, a Câmara dos Vereadores, cuja complexidade para
maioria nas votações e decisões é alta.
Os especialistas não traçam analogias,
mas é inegável a semelhança da ampla base de apoio política com as
denúncias que estão sendo julgadas no Supremo Tribunal Federal (STF). Na
ação penal 470, entre outras irregularidades, são julgadas a compra de
votos de partidos pelo Partido dos Trabalhadores (PT) para obter
aprovação de seus projetos no Congresso Nacional. No entanto, a rede de
corrupção do mensalão, de acordo com as denúncias, só ocorreu após os
partidos terem assumido o poder, conforme lembro Figueiredo.
Por fim, Aldê afirma que, embora o
horário político na televisão seja gratuito, o custo para a produção de
televisão é muito alto. “É evidente que um tempo de televisão grande
favorece qualquer candidato. Como mandatário, Eduardo Paes tem uma
agenda política muito ampla. Se fosse um candidato estreante, teria mais
dificuldade de preencher esses minutos”.
Jornal do Brasil – Luciano Pádua
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