MEC quer alfabetizar aos 8 anos; especialistas, aos 6

“Oito anos é muito tarde. O país já paga
muito caro pelo histórico de falta de atenção à educação. Então, se a
ideia é mudar isso, temos de centrar esforços e apostar em metas mais
ousadas”, afirma Izolda Cela de Arruda Coelho, secretária de Educação do
Ceará. Os avanços dos anos iniciais fizeram o estado ser referência em
alfabetização, tanto que o programa do MEC foi inspirado no que é
desenvolvido pela rede cearense.
Segundo o neurocientista Ivan Izquierdo,
da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a alfabetização
tardia é uma questão cultural e mudar esse paradigma exige que as
políticas públicas considerem, além do olhar dos pedagogos, a visão de
outros cientistas. “Não dá para trabalhar isolado. O cérebro é uma
questão da neurociência. Aos 3 anos, a criança já tem condições de
dominar e usar a linguagem. Aos 6, já pode estar alfabetizado”,
ressalta.
O presidente do Instituto Alfa e Beto,
João Batista Araujo e Oliveira, explica que 6 anos é a idade de
alfabetização na maior parte dos países que têm um idioma com
complexidade similar à oferecida pela língua portuguesa. “Considerando
que a escolarização tem começado aos 4 anos, não dá para conceber que se
leve outros quatro para que essa criança leia e escreva”, diz Oliveira.
A prova de que é possível realizar a
tarefa de forma adequada e no prazo correto são as escolas privadas, diz
a consultora educacional Ilona Becskeházy. “Se o aluno do colégio
particular aprende a ler e a escrever no primeiro ano, por que a
expectativa para quem depende da rede pública é maior?”, questiona.
Apesar da capacidade neurológica das
crianças, trabalhar com idade limite inferior aos 8 anos é utopia,
considera Priscila Fonseca da Cruz, diretora executiva da ONG Todos pela
Educação. “Uma meta precisa ser desafiadora, mas factível. É claro que
há muitos que conseguirão ler aos 6 ou 7 anos, mas se conseguirmos uma
régua que garanta que ninguém chegue aos 9 analfabeto, já é um bom
início”, diz. Ela lembra que a Prova ABC, aplicada a cerca de 6.000
alunos de escolas municipais, estaduais e particulares de todas as
capitais do país, mostrou que só metade dos estudantes estava plenamente
alfabetizada aos 8 anos.
Com Agência Estado
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