Debate sobre liberdade de imprensa e privacidade abre encontro da Sociedade interamericana de Imprensa

Em
uma mesa-redonda moderada pela jornalista de "O Globo" Patrícia Kogut, a
atriz Regina Duarte falou sobre o tema, seguida de Edgardo Martolio,
CEO da revista "Caras", de Ellyn Angelotti, professora do Poynter
Institute, e da advogada Taís Gasparian, especialista em mídia.
Regina
Duarte abriu os debates declarando "apoio total e incondicional à mais
plena liberdade de imprensa". Segundo ela, a liberdade de noticiar é uma
"valor inegociável".
A atriz disse que a mídia, de um modo geral,
a trata "muito bem, obrigada", mas que houve algumas poucas exceções em
que foi exposta sem estar de acordo. "Muitas vezes, fui surpreendida em
lugares públicos onde não queria ter aquele meu momento pessoal e
particular devastado. Mas eles aparecem... Com suas megalentes... Com
suas tecnologias de longo alcance... Se escondem, fazem a foto e fogem
rapidamente em suas motos", disse sobre os paparazzi.
Atriz Regina Duarte e Edgardo Martolio, CEO da Caras, ao fundo, durante o seminário (Foto: Flavio Moraes/G1)
A
atriz propõe que haja um consenso entre editor, fotógrafo e
celebridade, para que as imagens não surpreendam quem é fotografado.
"Seria romantismo sonhar com essa civilidade?", perguntou ela.
"Se fotografar, o famoso protesta; se não fotografar, o famoso reclama. Se correr, o paparazzo pega; se ficar, o paparazzo clica", disse o executivo da revista.
A resposta, de certo modo, vem de Edgardo
Martolio, CEO da revista Caras - "uma revista que faz muitas reportagens
consentidas sobre a vida privada de celebridades", como apresentou a
jornalista Patrícia Kogut.
Relatando casos em que os próprios artistas contratavam paparazzi para vender as imagens ou em que a mãe ligava dando dicas de onde a filha famosa estaria porque queria vê-la na revista, Martolio disse que esse meio é um "universo de traições", mas é uma espécie de pôquer. "Quem joga vai entender. Sentamo-nos à mesa sabendo que um pouco de mentira é regra do jogo. É como se diz no Brasil: 'Me engana que eu gosto'. O que temos que ser é sinceros, e vamos encontrar, com essa sinceridade, muitos acordos", disse.
Liberdade na era das mídias sociaisPara a professora do Poynter Institute Ellyn Angelotti, a questão da privacidade é muito mais desafiadora após a entrada em cena das mídias sociais, "porque agora a audiência se tornou editora. [...] Então mesmo que a mídia tradicional não publique, eles encontram formas de ver aquelas fotos, de assistir àqueles vídeos e de ler aquela informação."
Para Angelotti, que falou ao G1 ao fim do debate, as mídias sociais não substituem o papel do do jornalista. "Eu realmente acredito que só o esteja modificando. Estamos tendo que adaptar nossas habilidades, mas ainda precisamos contar boas histórias. Um bom texto ainda é importante", disse.
O debate foi concluído com a apresentação da advogada Taís Gasparian, especialista em mídia propriedade intelectual e lei de imprensa, que afirmou que, de acordo com a Constituição brasileira e outros códigos como o europeu, não há regra que mande que a publicação deva ser proibida. "Sempre a responsabilidade deve ser averiguada após a publicação", informou ela.
Jornalismo gráfico
O primeiro dia do evento reuniu ainda profissionais de infografia, no workshop "Infografia multimídia: tendências, vídeos, áudios e animações como complemento da informação". Entre outros temas, os participantes debateram o avanço das tecnologias e a importância do design gráfico na cobertura jornalística, assim como a transição entre o jornalismo impresso para o on-line em seus diversos formatos.
Em entrevista ao G1, o brasileiro Sergio Peçanha, editor de infografia do "New York Times", afirmou que, do ponto de vista de experimentação no jornalismo, a infografia é o campo onde mais se vê inovação atualmente.
O espanhol Rodrigo Silva, do "El País", destacou a busca pela qualidade e inovação como o caminho que o jornalismo gráfico deve percorrer. "A visualização de dados é uma parte da infografia, mas não é tudo. Deveríamos dar ao leitor as informações mais mastigadas, com mais conclusões prévias", disse.
O espanhol Rodrigo Silva, do "El País", destacou a busca pela qualidade e inovação como o caminho que o jornalismo gráfico deve percorrer. "A visualização de dados é uma parte da infografia, mas não é tudo. Deveríamos dar ao leitor as informações mais mastigadas, com mais conclusões prévias", disse.
Ao final da apresentação, Silva enviou uma mensagem aos colegas do diário espanhol, que anunciou esta semana um plano de corte de 149 funcionários dos seus quadros.
"Me permitam enviar uma saudação aos colegas do 'El País', sobretudo do
departamento de infografia, pela difícil situação que estão vivendo
agora."
Infografista da editora Abril, Luis Iria, discorreu sobre a
transição dos infográficos do jornalismo impresso para o on-line,
especialmente em reportagens voltadas para tablets e smartphones.
"Acredito que o impresso vai perdurar ainda por algum tempo. Mas não
podemos esquecer das novas gerações. O futuro é digital, e não tem como
fugir disso", disse.
A programação do evento na íntegra está disponível na página da 68ª Assembleia Geral da Sociedade Interamericana de Imprensa na internet.
G1
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