Temperatura do planeta atingiu níveis letais no Período Triássico
Há 250 milhões de anos, temperatura na região tropical do planeta chegava a 60ºC, impedindo a vida nos trópicos do planeta

Após grandes extinções em massa,
algumas regiões do planeta costumam permanecer em um estado conhecido
como “zona morta”, no qual espécies antigas não conseguem sobreviver e
as novas não conseguem se desenvolver. Normalmente, essas zonas mortas
duram dezenas de milhares de anos. No entanto, logo após a maior extinção em massa da história da Terra,
que aconteceu entre o final do período Permiano (que ocorreu entre 299
milhões e 251 milhões de anos atrás) e início do Triássico (de 251 a 199
milhões de anos atrás), o tempo de zona morta durou cinco milhões de
anos. Até hoje, os cientistas não haviam sido capazes de explicar o que
aconteceu nesse período do planeta, há 250 milhões de anos, que impediu a
recuperação da biodiversidade. Agora, uma pesquisa publicada na edição
desta semana da revista Science propõe uma explicação: a Terra estava quente demais.
CONHEÇA A PESQUISA
Título original: Lethally Hot Temperatures During the Early Triassic Greenhouse
Onde foi divulgada: revista Science
Quem fez: Yadong Sun, Michael M. Joachimski, Paul B. Wignall, Chunbo Yan, Yanlong Chen, Haishui Jiang,Lina Wang, Xulong Lai
Instituição: Universidade de Leeds, na Inglaterra
Dados de amostragem: Análise química de 15.000 dentes de peixes do Período Triássico. Por meio dos isótopos de oxigênio presentes nos fósseis, os cientistas conseguiram prever a temperatura no passado da Terra
Resultado: Os pesquisadores descobriram que, na região tropical do planeta, a temperatura variava entre 50ºC e 60ºC nos continentes e chegava 40ºC no mar.
Os pesquisadores já sabiam que o
aquecimento do planeta havia sido uma das principais causas da extinção
em massa no final do Permiano, mas agora descobriram que níveis letais
de calor foram responsáveis pelos cinco milhões de anos de dificuldades
que se seguiram. Durante esse período a temperatura nos continentes na
região dos trópicos variava entre 50 graus Celsius e 60 graus Celsius.
No mar, chegava a 40 graus Celsius. “Já sabíamos que o aquecimento
global estava ligado à extinção em massa do fim do Permiano,
mas esse estudo é o primeiro a mostrar que temperaturas extremas
impediram a vida de recomeçar nas baixas latitudes durantes milhões de
anos”, disse Yadong Sun, pesquisador da Universidade de Leeds e um dos
autores do estudo.
Antes da grande extinção,
a Terra era intensamente povoada por plantas e animais, com uma grande
população de répteis e anfíbios primitivos nos continentes e uma grande
variedade de criaturas no mar. Após o aquecimento, a zona morta se
estendeu por toda região tropical do planeta, que se tornou uma área
extremamente quente e úmida. Foi o fim das florestas. Sobraram apenas
pequenos arbustos e samambaias. Nenhum animal conseguiu sobreviver em
terra. Os peixes e répteis marinhos fugiram para regiões mais frias,
deixando os oceanos tropicais para serem habitados apenas por animais
invertebrados, como os moluscos. Nesse período, as regiões polares se
tornaram o último refúgio da biodiversidade.
Forno triássico — Para
chegar a esse resultado, os pesquisadores analisaram os dentes de 15.000
conodontes, peixes pré-históricos que se parecem com as enguias,
encontrados no sul da China. Nesses animais, a quantidade de isótopos de
oxigênio encontrada no esqueleto depende da temperatura do ambiente.
Logo, por meio da análise química dos dentes os pesquisadores
conseguiram prever a temperatura da Terra há milhões de anos.
Esse é o primeiro estudo a mostrar que a
temperatura nos oceanos poderia chegar a letais 40 graus Celsius — uma
temperatura tão elevada que a maioria dos animais morre e a fotossíntese
não é mais possível. Para efeitos de comparação, hoje a temperatura
média nos mares equatoriais vai de 25 a 30 graus Celsius.
“Nunca ninguém havia ousado dizer que o
clima do passado havia atingido níveis tão altos. Se tivermos sorte, a
atual tendência de aquecimento global não vai nos levar nem perto da
temperatura de 250 milhões de anos atrás. Mas, se chegar, nós mostramos
que a Terra pode demorar alguns milhões de anos para se recuperar”,
disse Paul Wignall, professor da Universidade de Leeds e um dos autores
do estudo.
Paraiba Urgente
Nenhum comentário: