Antecipar eleição pode ser “tiro no pé”, diz cientista político

De acordo com o estudioso, a melhor estratégia oposicionista, para
entrar na disputa de igual para igual, seria manter certa incógnita,
pelo menos até o começo do próximo ano, de quem seria o candidato. “Isso
não quer dizer que ele (o pré-candidato) não deva trabalhar nos
bastidores, mas que essa candidatura não esteja nas páginas dos jornais,
não esteja na mídia de um modo geral”, alertou.
Ítalo Fittipaldi explicou que para quem está no governo o time é
indiferente. “Se ele vai lançar candidatura agora ou no começo do ano
que vem não tem importância nenhum, para quem está no governo”, destacou
o professor. Ele informou que naturalmente se espera a candidatura à
reeleição de quem estar no poder. “E ele [governante] não precisa
trabalhar contra o desgaste do nome dele, pois o mesmo ocorrerá durante a
própria administração e essa a avaliação será feita na própria
eleição”, declarou.
Além disso, o estudioso afirmou que, no âmbito administrativo, a
prática de antecipar um debate eleitoral trás dificuldades à oferta de
políticas públicas prioritárias em detrimento de projetos eleitoreiros.
“Essa antecipação contamina a própria administração pública estadual,
que passa a ter a execução de algumas políticas públicas orientadas,
exclusivamente, pelo calendário eleitoral”, comentou. Ítalo Fittipaldi
destacou ainda que à relação entre os Poderes Executivo e o Legislativo
também é afetada por conta disso.
Cenário de 2014
Se as eleições fossem hoje haveria pelo menos seis candidaturas ao
Governo do Estado. Uma seria a candidatura natural à reeleição do
governador Ricardo Coutinho (PSB). O ex-prefeito de Campina Grande
Veneziano Vital do Rêgo encabeçaria a chapa do PMDB. Outra representaria
o bloco formado pelo PT, PP e PSC ainda sem candidato oficial, mas que
tem o ministro das Cidades Aguinaldo Ribeiro e o ex-prefeito de João
Pessoa Luciano Agra como opções. No caso de Agra, ele teria que se
filiar a um desses partidos. Fala-se em conversas bem avançadas com o
PT.
Ainda ventila-se a possibilidade de o PSDB ter o senador Cássio Cunha
Lima na disputa, mas se depender da vontade do presidente estadual da
legenda, deputado federal Ruy Carneiro, a candidatura tucana é tida como
certa. Além destas, ainda há a candidatura do PCO e do PSTU, que devem
dividir a chapa com o PSOL, que também já demonstrou o mesmo desejo.
Tempo trabalha contra quem está na oposição
Ítalo Fittipaldi disse que o tempo trabalha contra quem está na
oposição até durante costuras para composição das alianças políticas.
Segundo ele, cada caso é um caso, mas os prejuízos batem à porta dos
oposicionistas constantemente. “Isso porque, está se antecipando um
quadro que ainda não se materializou. Então, determinadas alianças que
podem ser muito interessantes a 16 meses da eleição, pode ser que não
sejam mais seis meses antes”, explicou.
Além disso, o professor destacou que, naturalmente, quem faz o
candidato de oposição tem mais dificuldade de atrair partidos para o
arco de alianças, pois disputará contra quem está com o poder na mão.
“No geral, se deixar para muito próximo da eleição pode-se perder o
aliado em potencial e se antecipar muito pode ter aliados em potencial
que não vão acrescentar nada a sua candidatura”, disse.
Por outro lado, esclareceu que, nesse caso, é necessário construir um
arco de aliança muito bem desenhado. “Essa sintonia fina é o grande
pulo do gato para ser ter uma boa candidatura oposicionista”, afirmou
Ítalo Fittipaldi.
Processo prejudica atuação das atuais gestões
O cientista político José Henrique Artigas elencou vários prejuízos
causados pela antecipação de uma eleição. O maior deles atinge a
sociedade, no que diz respeito à execução de projetos. “Durante esse
período os projetos de governo são executados de forma imediatista,
paternalista e clientelista e benefícios trazidos por eles acabam sendo
trocados por votos”, afirmou o estudioso.
No legislativo, segundo ele, o prejuízo é no tocante a paralisação ou
morosidade dos trabalhos. Artigas lembrou que numa eleição estadual os
parlamentares são candidatos natos e reeleição e param de exercer sua
principal função, trabalhar na campanha. “Eles começam a correr atrás
dos votos e deixam o debate parlamentar de lado”, ressaltou. Além disso,
ponderou que, com a antecipação da campanha, a briga se dá em torno de
candidatos, de forma personalizada, e não do melhor projeto de Governo
para o Estado.
Cenário de 2014
Com relação aos prejuízos políticos, aos que apostam na antecipação
da campanha, José Henrique Artigas alertou que, no momento em que o
candidato se lançar como pré-candidato, todos os opositores “vão bater
nele”.
“Se não houver a antecipação os opositores seguram as críticas. Dessa
forma, os que se anteciparem ficarão expostos para serem bombardeados
por mais tempo. Já os que preferirem esperar, terão mais tempo para
trabalharem as bases eleitorais e construir as alianças”, explicou
Artigas. Ele disse que um caso emblemático desse tipo ocorreu na disputa
pela prefeitura de João Pessoa. “Estela foi alvo de inúmeras criticas
devido à proximidade que tinha com o Governador. A oposição que se fez a
Estela foi procurando atingir Ricardo Coutinho”, destacou.
Partidos ainda estão indefinidos
Artigas acredita que, embora muitos nomes já sejam cotados para a
disputa, há ainda uma grande indefinição sobre os nomes que realmente
entrarão na briga pelo Governo. Para ele, o PSDB deve seguir na aliança
com o PSB e trabalhar pela reeleição de Ricardo Coutinho.
“Com a derrota de Cícero Lucena em 2012, acredito que haverá uma
aliança oficial do PSDB com o PSB. Essa aliança tem grande chance de
vitória”, reforçou. Sobre o PT, ele afirmou que o partido não tem um
nome forte para apresentar.
Já as previsões de Artigas para o PMDB é de rompimento. “O nome que
está posto é o de Veneziano, mas ele não é o único e por conta disso
ainda vai se abrir uma disputa”. Se entrar na disputa dividido, Artigas
diz que o PMDB favorecerá o projeto de reeleição de Ricardo Coutinho.
“Discussão teve início em 2012”
Para o também cientista político e professor da UFPB, Jaldes Reis de
Meneses, a antecipação da eleição de 2014 é uma prática dos
oposicionistas e foi iniciado no processo eleitoral do ano passado,
quando foram escolhidos os novos prefeitos, principalmente nos
municípios de João Pessoa e Campina Grande – os dois maiores colégios
eleitorais do Estado.
“Isso aconteceu porque, na Paraíba, a luta pelo poder é extremamente
radicalizada. Mas, nada está definido ainda e muitas alternativas irão
surgir e o desfecho mesmo de tudo isso será iniciado em julho de 2014,
durante o período das convenções partidárias”, frisou Jaldes.
Ele afirmou que a oposição vem vivendo um momento extremamente
difícil, tanto do cenário nacional como no local. Segundo ele, a
presidente Dilma Rousseff e o governador Ricardo Coutinho são os
favoritos da disputa.
Por outro, lado comentou que no Estado a situação é muito confortável
para o Governo, devido à desarticulação da oposição. Para ilustrar a
afirmação, Jaldes fez uma análise do cenário político que vem se
desenhando nos últimos meses. “O candidato mais competitivo seria
Veneziano, mas a coligação a que pertence é uma desorganização total e
esse embate tem sido muito positivo ao Governo. O bloco liderado pelo PT
não tem candidato competitivo, porque, a meu ver, Aguinaldo não entrará
nessa briga. Luciano Cartaxo também não e fora esses nomes os demais
são muito frágeis”, avaliou Jaldes.
Por fim, destacou que quem deve definir as próximas eleições será
Campina Grande. “E lá o prefeito Romero Rodrigues é aliado do
governador”, concluiu.
jornal correio da paraíba
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