Após polêmica, 'caveira' é retirada da farda do Bope da PM da Paraíba
O
uso da caveira como símbolo do Bope gerou protestos do Conselho
Estadual de Direitos Humanos e um discurso àspero do deputado Luiz
Coputo (PT), na tribuna da Câmara Federal

O
Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar da Paraíba (Bope)
está proibido de usar, em sua farda, o símbolo do punhal encravado numa
caveira. A determinação deve ser publicada no boletim interno da PM que
circulará nesta sexta-feira (22), mas os integrantes do Bope já
retiraram o emblema de suas fardas nesta quinta.
O uso da caveira
como símbolo do Bope gerou protestos do Conselho Estadual de Direitos
Humanos e um discurso àspero do deputado Luiz Coputo (PT), na tribuna da
Câmara Federal. A polêmica ficou ainda mais acirrada depois da
quinta-feira passada (14), quando, durante a comemoração do primeiro ano
de aniversario do Batalhão Especial da Polícia Militar da Paraíba, o
comandante geral da PM, coronel Euller Chaves, vestiu o uniforme preto
com o símbolo.
Durante a solenidade foi hasteada uma bandeira
preta, ostentando o desenho do punhal cravado na caveira, juntamente com
a bandeira nacional e a bandeira do Estado da Paraíba. A solenidade
ocorreu em frente ao comando geral da PM, na praça Pedro Américo, centro
de João Pessoa.
Em carta pública, o comandante do Bope, major
Jerônimo Pereira da Silva Bisneto, defende o uso do símbolo. "O Estado
Democrático de Direito deve ser preservado e aplicado a todos dentro do
território nacional e, isso implica que também nós, policiais militares e
policiais do BOPE, devamos ter nossos direitos preservados, direitos a
pensar, a seguir convicções filosóficas e continuar acreditando que a
'faca na caveira' significa a vitória da vida sobre a morte, com
sabedoria, poder, força e invencibilidade frente à criminalidade",
argumenta.
O deputado Luiz Couto (PT) havia ocupado a tribuna da
Câmara Federal, na segunda-feira (18), para denunciar que o comandante
da Polícia Militar da Paraíba, coronel Euller Chaves, estaria
desobedecendo determinação do governador Ricardo Coutinho.
Na opinião do deputado, o coronel queria implantar o símbolo da caveira na instituição.
Couto
disse que apesar do governador já ter se pronunciado, por mais de uma
vez, que não aceitaria o uso desse emblema na polícia, há, segundo ele,
registros de que o coronel Euller utilizou o símbolo durante uma
solenidade, em que estava vestido de preto, e ainda gritou o nome
‘caveira’ com o microfone na mão em plena praça diante do público. “Isso
precisa ser analisado com mais profundidade”, defendeu o parlamentar.
Luiz
Couto destacou que as entidades defensoras dos direitos humanos na
Paraíba manifestaram, em documentos entregues ao comandante geral e ao
governador Ricardo Coutinho, o repudio aos crimes de apologia e
defenderam o cumprimento da Resolução Ministerial nº 8, de 20 de
dezembro de 2012, art. 2°, inciso XVII.
Couto pediu que as
autoridades da Paraíba analizassem os documentos e que cumprissem "as
determinações das resoluções ministeriais na forma de acolhimento ao
clamor público”.
O deputado federal considerou que os policiais
que "aderissem à essas atrocidades, que sejam punidos conforme a lei”.,
completou.
Para os integrantes do Conselho Estadual de Direitos
Humanos, é motivo de preocupação não apenas o uso de caveira como
símbolo, mas também de figuras "de animais raivosos, jargões em músicas
ou jingles de treinamento que fazem apologia ao crime e à violência, com
a escusa de que os policiais se sentem mais estimulados para o
trabalho".
Eles protocolaram junto ao quartel do comando geral da
PM da Paraíba a resolução ministerial nº 08, de 21 de dezembro de 2012,
que orienta as Polícias a não utilizarem tais símbolos. "Entendemos que
esta permissividade contraria princípios constitucionais, tratados de
direitos humanos e a Resolução Ministerial acima mencionada, afrontando o
Estado Democrático de Direito. É sabido que a violência impregnada
nesses símbolos e práticas desumaniza os trabalhadores da Segurança
Pública que acabam manifestando o ódio e a raiva apreendidos no
tratamento dispensado à população jovem, negra e mais pobre do Estado,
além de contrariar a política de segurança em voga pela Secretaria de
Segurança Pública do Estado da Paraíba e do Governo do Estado da
Paraíba", enfatizaram os integrantes dos Direitos Humanos.
O
major Bisneto, comandante do Bope, rechaça a ideia de que a caveira e o
punhal remetam à apologia ao crime. "Em nosso escudo nada há de apologia
ao crime e a violência, pois esta última manifesta-se de várias
maneiras: em guerras, conflitos religiosos, étnicos, preconceito,
discriminação, fome, miséria, contra a mulher ou contra a criança",
defende-se na carta.
Eis a carta do comandante do Bope, na íntegra:
“Caveira do BOPE: símbolo da sabedoria, do poder, da força e da invencibilidade da polícia militar frente à criminalidade e a violência no Estado”
Desde
os primórdios da humanidade há diversos entendimentos quanto aos
símbolos e seus significados. O termo “símbolo” tem origem no grego e
sendo um signo é sempre algo que representa outra coisa ou alguma coisa
para alguém. Os símbolos estão em diversas áreas da vida em sociedade,
na comunicação entre os indivíduos, povos e nações, além de abastecerem
as práticas religiosas, espirituais, metafísicas, filosóficas e etc. Em
se constituindo um elemento essencial no processo de comunicação
encontra-se bastante difundido no quotidiano. Nesse argumento, alguns
símbolos são reconhecidos internacionalmente, outros nacionalmente e por
fim, alguns só são compreendidos dentro de um determinado grupo ou
contexto (religioso, cultural, filosófico, etc).
A
representação específica para cada símbolo será o resultado de um
processo natural ou convencionada para que o receptor, uma pessoa ou
grupo delas, consiga interpretar seu significado e sua conotação. A
semiologia e semântica se encarregam desse papel.
Um dos
símbolos mais mal interpretados em nossa sociedade é justamente o
símbolo da “Caveira”, que decodificado, por alguns, estaria associado à
morte, a letalidade ou perigo de vida. Para que possamos esclarecer essa
decodificação e descortinar essa ignorância sobre a heráldica do BOPE,
não só da nossa Briosa, mas de todas as coirmãs que ostentam a Caveira
como broquéis em suas bandeiras ou flâmulas e em suas fardas, analisamos
que o ser humano em morte, ao se decompor, apresentará apenas ossos e
dentes, essa seria a morte física, carnal, que tanto entrelaça a figura
da Caveira com a morte. Contudo, lembremos que em vida, ela, a caveira,
nos oferece sustentação, dureza e proteção para o corpo físico. E
precisamos muito dessa sustentação. A caveira, em sua observação
metafísica, representa uma grande mudança na vida, onde talvez a morte
fosse a maior delas. Um novo ciclo. É um símbolo que nos remete a pensar
que estamos aqui de passagem, em caráter transitório, pela vida, nos
mostrando que todos somos iguais por dentro, não temos sexo, cor, classe
social, preferências sexuais, raça, idade, ou quaisquer outras formas
discriminatórias, o que nos remete ao nosso Preâmbulo Constitucional e
Princípios Fundamentais, em seus Artigos 1º e 3º , em nossa Lei Maior,
estruturando e fundamentando o Estado Democrático de Direito.
O
primeiro BOPE – Batalhão de Operações Especiais foi criado, no Brasil,
em 1978, com o nome inicial de “Núcleo da Companhia de Operações
Especiais”, pelo Tenente-coronel da PMRJ Paulo Amêndola, que explica que
o símbolo representa “vitória sobre a morte”. Essa simbologia, a
Caveira, é utilizada em praticamente, todos os Batalhões de Operações
Especiais, com essa mesma representação e decodificação.
Em
algumas culturas, a Caveira também significa poder, força e
invencibilidade. Em nosso Estado, há um ano foi criado o Batalhão de
Operações Especiais, através da LC nº 87, de 03 de dezembro de 2008,
adotando em sua Heráldica o Escudo Português Clássico nas cores cinza e
preto, representando o sigilo das operações especiais e a disposição de
operar em atividades rotineiras ou em missões inóspitas e intempestivas,
tendo ao centro a figura de uma Caveira (crânio) que simboliza a
inteligência e a coragem de um guerreiro, bem como o desprendimento
pessoal para cumprimento de suas atribuições. Essa Caveira está cravada
com a espada da justiça de baixo para cima, simbolizando “a vitória da
vida sobre a morte”, e ao fundo o mapa do nosso Estado que representa
nossa área de atuação e com a Caveira a sua frente simbolizando que este
Batalhão cuida, zela, vela e protege todo o Estado da Paraíba, não
devendo, portanto, ter a simbologia de seu escudo associado a símbolos
ou apologias ao crime e a violência, mas sim, a imagem de uma Unidade
Militar pronta para servir e proteger a sociedade paraibana, posto que
robustecendo esse escudo encontra-se o lema de “preservar vidas e
aplicar a lei”.
A expressão “faca na caveira” remete ao
fim da Segunda Guerra Mundial, onde após um combate, um Oficial inglês,
ao ter conseguido invadir um Quartel de Comando Alemão Nazista e dominar
suas tropas, encontrou sobre a mesa de um Oficial auxiliar do ditador
Adolf Hitler, uma caveira e cravando o seu punhal sobre ela, ostentou o
lema da “vitória da vida sobre a morte”, morte essa, que era disseminada
nos campos de concentração atestando toda história que já nos é
conhecida.
Nossa Briosa e nosso Batalhão tem conhecimento
da Resolução 08-2012, do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa
Humana, da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da
República, que após suas considerações RECOMENDA, dentre outros itens:
“XVII - é vedado o uso, em fardamentos e veículos oficiais das polícias,
de símbolos e expressões com conteúdo intimidatório ou ameaçador, assim
como de frases e jargões em músicas ou jingles de treinamento que façam
apologia ao crime e à violência”, ora... vimos no inicio desse
documento que os símbolos são codificados por pessoas e decodificados
também por estas, logo, sua interpretação será também influenciada por
seus princípios, convicções sociais, políticas, filosóficas e etc.
Para
nós, policiais militares, a Caveira simboliza poder, força e
invencibilidade. Um poder que segundo a Sociologia é a habilidade de
impor sua vontade sobre os outros, sendo essa vontade, não a nossa como
pessoa física, mas sim a vontade da lei a que nos defende o Art. 144 da
CF. A força que nos representa a superação do treinamento e do rigor da
vida policial militar, além do Estado forte a que representamos, em seus
diversos campos, a exemplo do político, com o próprio nome da capital,
ao campo poético e literato como o destacado Augusto dos Anjos e outros
nomes nacionalmente reconhecidos e, por fim a invencibilidade de nossa
Caveira, simbolizando que a Polícia Militar deve ser invencível frente à
criminalidade em nosso Estado.
Em nosso escudo nada há
de apologia ao crime e a violência, pois esta última manifesta-se de
várias maneiras: em guerras, conflitos religiosos, étnicos, preconceito,
discriminação, fome, miséria, contra a mulher, contra a criança, o
idoso e enfim... esse termo é oriundo do latim “violentia” que significa
violação, que se tratando de direitos humanos, a violência abrange
todos os atos de violação dos direitos: civis (liberdade, privacidade,
proteção igualitária); sociais (saúde, educação, segurança, habitação);
econômicos (emprego e salário); culturais (manifestação da própria
cultura) e políticos (participação política, voto). Logo, esses são
direitos que protegemos todos os dias nas ruas do nosso Estado. Não
obstante a essas acusações infundadas, deve-se observar que a Caveira do
BOPE não faz apologia ao crime, pois sendo esse um fato típico, de um
comportamento humano que provoca, em regra, um resultado, previsto em
lei penal como sendo uma infração, e que será penalizado pelo braço
punitivo do Estado, não se aplicando a essa simbologia.
Dessa
forma, o escudo do BOPE da PMPB, não contraria o item XVII – da
Resolução 08-2012, do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana,
pois não remete a crime e nem a violência, sob ótica de comandantes e
comandados deste Batalhão, pelo já exposto. Que sobre Direitos Humanos
os militares do BOPE – PMPB, estão sempre em contato e cumprimento com
os tratados internacionais ratificados pelo Brasil, e em seu corpo de
Oficiais e Praças há militares habilitados, com cursos na área
específica, inclusive com um integrante do Conselho Estadual de Direitos
Humanos, o 1º SGT Astronadc Pereira de Morais, membro e partícipe da
causa de defesa dos direitos do homem e da dignidade da pessoa humana
nesse Estado e que inclusive, trabalha no GATE – Grupo de Ações Táticas
Especiais, Companhia do BOPE, desde de 1998, ou seja, há 15 anos, que
veste a farda do GATE, agora BOPE, com seu escudo de Caveira e que em
nada adjudica de apologia ao crime ou a violência, nem tampouco de
conteúdo intimidatório ou ameaçador. Nota-se aqui que esse Batalhão e
seu escudo não devem ser motivos de preocupação ou repúdio como destacou
os militantes do ajuizado Conselho, posto que se dessa forma o fosse
como se explicaria um membro militante do seu próprio Conselho
vestindo-a diariamente em suas atividades.
Quanto a
gritar em praça pública “CAVEIRA”, como se expos o documento, nos
referimos ao que todas as Unidades Militares do Brasil fazem durante as
formaturas ao ser dado o Comando de “A vontade”, ou “Fora de Forma”, que
diga-se bradar ao que se refere o escudo do seu Batalhão. Sendo mais
claro: o Batalhão do Exército de Guerra na Selva, brada “SELVA”, as
Unidades-Escolas bradam “ACADEMIA” ou “CFAP”, o Batalhão Ambiental brada
“Operações Ambientais” e assim sucessivamente.
Quanto à
leitura da Resolução em questão, fica óbvio que já tínhamos conhecimento
e que não nos postamos contra a mesma, contudo, não estamos em
desacordo com ela, como já foi explicitado anteriormente.
Quanto
à polícia que esse Conselho de Direitos Humanos deseja, esperamos que
seja a mesma que nós, integrantes do BOPE, trabalhamos todos os dias com
afinco para construí-la, uma polícia cumpridora de suas atribuições
constitucionais, com respeito à dignidade da pessoa humana, como
princípio fundamental, além de tratamento igualitário á todos e sem
distinção, nos termos da CF, ajudando o Estado e a nação a construírem
uma sociedade livre, justa e solidária, mantendo a ordem, a paz e
repudiando processos discriminatórios.
Por fim, o Estado
Democrático de Direito deve ser preservado e aplicado a todos dentro do
território nacional e, isso implica que também nós, policiais militares e
policiais do BOPE, devamos ter nossos direitos preservados, direitos a
pensar, a seguir convicções filosóficas e continuar acreditando que a
“faca na caveira” significa a vitória da vida sobre a morte, com
sabedoria, poder, força e invencibilidade frente à criminalidade.
JERÔNIMO PEREIRA DA SILVA BISNETO – MAJ QOC
Comandante do BOPE
JERÔNIMO PEREIRA DA SILVA BISNETO – MAJ QOC
Comandante do BOPE
Por Hermes de Luna
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