'Os partidos não representam a população, querem apenas poder', diz Joaquim Barbosa
Em sua palestra no Instituto de Educação Superior de Brasília
(IESB), na qual é professor, o presidente do Supremo Tribunal Federal
(STF), Joaquim Barbosa, afirmou, em sua crítica ao Congresso Nacional,
que os partidos no Brasil são de "mentirinha", responsabilizando as
legendas pela "ineficiência e capacidade de deliberar" do Poder
Legislativo.
"Nós temos partidos de mentirinha. Nós não nos identificamos com
os partidos que nos representam no Congresso, a não ser em casos
excepcionais. Eu diria que o grosso dos brasileiros não vê consistência
ideológica e programática em nenhum dos partidos. E nem pouco seus
partidos e os seus líderes partidários têm interesse em ter consistência
programática ou ideológica. Querem o poder pelo poder", disse o
presidente da Corte.
Um dos maiores problemas no Brasil, segundo Barbosa, é que o
Legislativo "é inteiramente dominado pelo Poder Executivo. Há um domínio
institucional do Executivo sobre o Congresso Nacional. O Congresso não
foi criado para a única e exclusivamente deliberar sobre o poder
executivo. Cabe a ele a iniciativa da lei. Temos um órgão de
representação que não exerce em sua plenitude o poder que a Constituição
lhe atribui, que é o poder de legislar".
Solução
Há uma ausência da sensação de representação, e é devido ao
sistema eleitoral, afirmou o ministro. Ainda acrescentou uma solução:
"Passados dois anos da eleição ninguém sabe mais em quem votou. Isso vem
do sistema proporcional. A solução seria a adoção do voto distrital
para a Câmara dos deputados [sistema em que cada membro do parlamento é
eleito individualmente nos limites geográficos de um distrito pela
maioria dos votos]. Teríamos que dividir o país em 513 distritos".
"Hoje temos um Congresso dividido em interesses setorizados. Há uma bancada evangélica, uma do setor agrário, outra dos bancos. Mas as pessoas não sabem isso, porque essa representatividade não é clara", terminou.
"Hoje temos um Congresso dividido em interesses setorizados. Há uma bancada evangélica, uma do setor agrário, outra dos bancos. Mas as pessoas não sabem isso, porque essa representatividade não é clara", terminou.
Rebatendo a solução do ministro, o senador Rodrigo Rollember
(PSB-DF), que também participou da palestra, argumentou que o atual
sistema de votos proporcionais faz a população do país ser mais bem
representada, e que nos moldes do voto distrital as minorias seriam
subrepresentadas.
O senador argumentou mais: "O nosso Congresso Nacional é reflexo
da sociedade brasileira, representa o Brasil com suas qualidades e seus
defeitos. É o poder mais cobrado de todos."
Entretanto, as críticas ao Congresso continuaram. O presidente do Supremo afirmou, exemplificando, que o projeto de emenda limitando os Poderes do STF "significaria o fim da Constituição de 1988", mas não se referiu diretamente à PEC 33.
Em que medida podem os cidadãos atuar no intuito de construir uma verdadeira democracia? Até que ponto a fragilidade do sistema se deve apenas à estruturação de votos? Qual a influência da alienação da sociedade brasileira para o cenário atual? A problemática é complexa.
Lígia Ferreira é jornalista e estudiosa de mecanismos sociais e midiáticos.
Correio Braziliense e Folha de São Paulo
Entretanto, as críticas ao Congresso continuaram. O presidente do Supremo afirmou, exemplificando, que o projeto de emenda limitando os Poderes do STF "significaria o fim da Constituição de 1988", mas não se referiu diretamente à PEC 33.
Em que medida podem os cidadãos atuar no intuito de construir uma verdadeira democracia? Até que ponto a fragilidade do sistema se deve apenas à estruturação de votos? Qual a influência da alienação da sociedade brasileira para o cenário atual? A problemática é complexa.
Lígia Ferreira é jornalista e estudiosa de mecanismos sociais e midiáticos.





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