Senado retira discretamente do novo regimento interno da Casa o 'juramento de ética'
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| Regimento interno da casa é de 1970, época da ditadura militar (Joedson Alves/AE) |
Com hábitos e costumes criticados pelas manifestações populares
recentes, o Senado discretamente decidiu retirar da proposta do novo
regimento interno da Casa a sugestão para que senadores se comprometam a
agir com ética "na atividade política" e como cidadãos. O compromisso
seria assumido em juramento no ato da posse, mas foi rejeitada pelo
relator das mudanças no regimento, senador Lobão Filho (PMDB-MA).
O relator também excluiu do documento a obrigação para que os
parlamentares apresentem, quando empossados, declaração de bens de seus
parentes até o segundo grau. A medida evitava os chamados "parentes
laranjas" de parlamentares, que transferem para o nome de familiares
parte de seu patrimônio.
"Não há como o senador obrigar seus parentes a revelarem os bens que
possuem, pois ofenderia o direito à privacidade desses", justificou
Lobão Filho. O regimento interno do Senado é de 1970, auge da ditadura
militar. Desde então, nunca foi reformado. O texto disciplina desde a
atuação dos senadores aos pronunciamentos e tramitação de matérias.
Em 2009, o então senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) relatou a primeira
tentativa de alterar as regras da Casa. O relatório do tucano acatou a
sugestão do então senador José Nery (PSOL-PA) para incluir no texto do
juramento da posse o compromisso dos senadores com a ética. O texto
atual diz apenas: "Prometo (...) desempenhar fiel e lealmente o mandato
de senador". Na proposta de Jereissati, o juramento incluía o
compromisso de desempenhar o mandato de forma "honesta" e "sempre na
defesa intransigente da ética na atividade política e como cidadão". O
tucano, contudo, deixou o Senado sem que o relatório fosse votado.
Como novo relator, Lobão Filho suprimiu a versão que incluía o
compromisso com a ética do juramento. No parecer, apresentado à Comissão
de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado em maio, o senador disse que a
sugestão de mudança no juramento merecia ser acatada "parcialmente"
para incluir "a expressão honesta", mas não justificou a razão de
rejeitar o trecho.
Decoro – Lobão também não acatou emenda que obrigaria a
comunicação à corregedoria de atos incompatíveis com o decoro ou com a
compostura pessoal praticados fora das dependências da Casa Legislativa.
O atual texto do regimento prevê que a denúncia seja encaminhada quando
a quebra de decoro ocorrer dentro do prédio do Senado, o que foi
mantido.
Entre as emendas acatadas pelo senador, está a que impede o pagamento de
salário aos congressistas que "não compareceram à sessão em virtude de
prisão processual criminal". O texto está pronto para votação na CCJ. O
presidente da comissão é o senador Vital do Rêgo (PB), do mesmo partido
de Lobão Filho e indicado pelo presidente da Casa, Renan Calheiros
(PMDB-AL), quando líder.
Se aprovado na CCJ, o texto segue para uma comissão temporária especial, mas há possibilidade de ir direto para o plenário.
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