Alunos querem matemática
Apesar do desempenho ainda insatisfatório no Pisa 2012, a maioria dos jovens brasileiros (73%) se interessa pelos temas estudados em matemática
Apesar do desempenho ainda insatisfatório no
Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa, na sigla em inglês)
2012, a maioria dos jovens brasileiros (73%) se interessa pelos temas
estudados em matemática. A média dos países participantes para essa
pergunta é de 53%. Fica, então, a dúvida: a escola está sabendo como
canalizar esta motivação? ."
O suposto interesse não parece lastreado por condições de ensino e
estudo adequadas", aponta à Educação Nilson José Machado, professor
titular da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP).
Machado menciona o "suposto" interesse porque acredita que há também
muita curiosidade em torno da matéria, o que ele distingue de um
"interesse genuíno".
André Portela Souza, coordenador da Escola de Economia de São Paulo
(EESP) da Fundação Getulio Vargas (FGV), avalia que uma parte do
problema está no fato de o ensino da disciplina, de maneira geral, ser
muito conteudista, voltado para a prática de exercícios e a memorização
de fórmulas, o que poderia impactar negativamente a motivação dos
jovens. Segundo Andreas Schleicher, secretário-geral da Organização para
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), os países com melhores
resultados de matemática no Pisa são aqueles que mais trabalham com a
compreensão de conceitos.
A despeito do interesse, os brasileiros se mostraram pouco confiantes
com seu desempenho: 59,5% acham que, estudando ou não, suas notas serão
sempre ruins em matemática. "Isso é uma ducha fria de realidade
dissolvendo um sonho sem fundamentação suficiente", diz Machado. Esse
dado se relaciona com o senso de responsabilidade sobre o fracasso
escolar.
De acordo com Schleicher, os brasileiros tendem a atribuir o mau
desempenho na matéria à falta de sorte, aos professores, que, segundo
eles, não ensinam com clareza ou não motivam, à falta de capacidade e
uma série de outros motivos. O comportamento é diferente entre os
chineses, que, pelo contrário, tendem a assumir a 'culpa' pelos
eventuais fracassos.
A atitude é analisada pelo economista da FGV como uma internalização,
pelo aluno, de situações que ele vivencia na escola. "Quando ele vê que
nada muda em sua escola, que não há progresso, ele internaliza isso,
essa falta de expectativas", diz. "Mas essa atitude de não acreditar no
sucesso pode ser mudada se provocarmos mudanças e mostrarmos como elas
podem ser alcançadas", acrescenta.
No Brasil, a prova do Pisa foi aplicada em 2012 a 19.877 estudantes de
837 escolas. No mundo todo, 510 mil alunos participaram da amostragem.
Na lista de 65 países, os brasileiros ficaram na 58ª posição em
Matemática, 53ª em Português e 59ª em Ciências. A novidade desta edição
ficou por conta da melhoria da performance dos estudantes em matemática.
Os brasileiros foram os que mais evoluíram na disciplina entre 2003 e
2012. De 356 pontos, eles alcançaram 391 pontos em um total de mil.
Considerando que o país saiu de um resultado ruim - a média em 2003 era
de 383 pontos -, o fato não foi comemorado, exceto pelo ministro da
Educação. "Isso torna nossa luta pela melhoria uma caminhada eterna.
Daqui a 150 anos, a continuar no mesmo ritmo de melhoria, chegaremos
perto dos países com bom desempenho", lamentou Machado.
Revista Educação




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