Projeto piloto do MEC banca graduação completa no exterior para melhores do Enem
Depois de quatro anos de existência discreta, ProUni Internacional deu um novo passo; a partir deste ano, programa torna pública oferta de 80 bolsas para a Espanha até 2018
Há exatos quatro anos, o estudante
paulista Rubens Lima foi surpreendido com a ligação de um desconhecido.
"Do nada, e de repente, me ligou uma pessoa que se identificou como
sendo um assessor de projetos internacionais do governo. Durante o
contato, ele disse que eu tinha ganhado uma bolsa de estudos na Espanha
por ter tido uma das maiores notas no Enem [Exame Nacional do Ensino
Médio]", lembra ele.
O contato foi feito na mesma semana que o estudante - que na época tinha 18 anos - começara as aulas no curso
de Engenharia Química em uma faculdade particular de São Paulo. Ele
havia sido selecionado como bolsista do Programa Universidade para Todos
(ProUni). Mas depois da tal ligação misteriosa, seus planos mudaram por
completo.
Lima fez parte do primeiro grupo de alunos
que foram convocados para participarem de um projeto piloto do
Ministério da Educação (MEC), o ProUni Internacional. A iniciativa,
pioneira no País, banca todo o ciclo de quatro anos de estudos de
graduação no exterior.
Lá fora, os alunos selecionados ganham bolsas integrais para
estudarem na Universidade de Salamanca, uma das mais antigas e
prestigiadas da Espanha. O programa Ciência sem Fronteiras (CsF) - outra
iniciativa do MEC, que vem apresentando uma série de problemas em sua
condução -, banca geralmente apenas um ano de bolsa em universidades do
exterior.
Seleção
Além dessa primeira chamada - feita em 2010 e que contou com a participação de Lima e de outros nove estudantes
-, outras três seleções foram realizadas pelo governo nos anos
subsequentes. Nenhuma das convocações contou com a abertura de edital
público de seleção. Todo o contato foi feito diretamente com os
estudantes que tiveram as melhores pontuações no Enem.
Ademais de ter uma boa nota no exame, todos os alunos contatados pelo
governo deveriam ser estudantes de baixa renda e terem se inscrito no
ProUni regular - o programa de bolsas de estudo nas instituições
particulares. Assim, tendo em mãos a lista dos alunos com maior nota no
Enem, foram selecionados para o programa do MEC aqueles que tinham recém
ingressado em alguma instituição particular pelo ProUni em cursos
considerados como estratégicos pelo governo.
Na primeira turma, por exemplo, fazem parte alunos das áreas de
Engenharia Química e Matemática. Nos demais grupos, foram selecionados
estudantes dos cursos de Estatística e Física, por exemplo. Também há
alunos de Comunicação Social e Educação entre os selecionados do ProUni
Internacional.
Nova fase
Depois de quatro anos de criação, o programa do MEC deu um novo
passo. O ProUni Internacional resolveu se abrir para o público em geral.
A expectativa é que, até 2018, sejam oferecidas 80 vagas. O
quantitativo é o dobro do que foi ofertado até então, quando foram
selecionados 10 candidatos por ano, entre os anos de 2010 e 2013.
A abertura coincide com a formatura da primeira turma - eles viajaram
em 2010 e acabaram o curso agora no último semestre. Dos 10
selecionados, três desistiram do programa, o restante conseguiu chegar
até o último ano.
Rubens Lima foi um dos que participaram da cerimônia de formatura.
"Minha família está muito feliz e bastante orgulhosa de mim, formar-se
em engenharia em uma universidade já é um orgulho, e quando o curso é
feito no exterior, com tudo pago, a comemoração é ainda maior", diz.
Novas regras
Agora, com a abertura do novo ciclo do programa, que vai oferecer
mais 80 vagas até 2018, as regras são diferentes. Para ganhar uma bolsa,
o candidato não precisa estar vinculado ao ProUni. Ele necessita, no
entanto, atender aos requisitos solicitados pelo programa.
O candidato ao ProUni Internacional deve ter cursado o ensino médio
em escola pública ou ter sido bolsista em instituição privada e ter uma
renda familiar mensal per capita que não exceda o valor de até um
salário-mínimo e meio. É preciso, também, ter uma nota mínima de 600
pontos no Enem e não ser portador de diploma de curso superior.
Os professores da rede pública de ensino, interessados nos cursos de
licenciatura e pedagogia, também podem participar do ProUni
Internacional. A vantagem que esse público têm é que, nesse caso, podem
participar quaisquer que sejam os candidatos, independente da renda que
recebem.
Como a convocatória de 2014 já foi encerrada, a próxima seleção deve
se aberta no início de 2015. Para acompanhar a nova abertura da
convocatória e se inscrever, o aluno deve acompanhar o site da Fundação
Capes - a agência de fomento do MEC - na internet.
Recém selecionado
O paraibano Paulo Filipe Vasconcelos, de 22 anos, foi um dos
selecionados na primeira chamada pública aberta ao público neste ano.
Natural de Campina Grande, Vasconcelos já viajou para a Espanha no final
do primeiro semestre. Lá, teve que fazer o vestibular espanhol e
aprender o idioma antes de começar o curso de Filosofia em Salamanca,
previsto para iniciar em setembro.
"Faço parte de um tipo de aluno que, mesmo sendo de baixa renda,
sempre luta muito para melhorar de vida por meio dos estudos. Durante
toda minha trajetória escolar, sempre consegui bolsas de estudos em
escolas particulares", fala Vasconcelos.
Mesmo participando do primeiro processo que contou com um edital
público, o estudante acredita que essa primeira edição aberta do ProUni
Internacional foi pouco divulgada. A apresentação de candidaturas
ocorreu em março e o resultado dos selecionados saiu em abril.
“Descobri apenas no último dia, acabei me inscrevendo de última hora.
Mas foi difícil convencer a minha mãe, já que ela pensava que se
tratava de tráfico de pessoas, de tão bom que o programa é", diz
Vasconcelos.
Vantagens
A brincadeira que o estudante faz com o receio da mãe têm razão de
ser. Ao elogiar o programa, Vasconcelos cita as vantagens às quais os
candidatos ao ProUni Internacional têm ao serem selecionados. "Para os
primeiros 12 meses, a Capes paga uma bolsa mensal de 870 euros [mais de
R$ 2,5 mil], o que dá para viver muito bem. Depois, o Santander dá um
auxílio mensal de 730 euros [mais de 2 mil reais]", comenta Filipe.
Ele também diz que os cursos de língua e de cultura são ofertados de
forma gratuita antes do início do curso na universidade. As passagens
aéreas também são bancadas pelo programa, além de seguro saúde e auxílio
instalação, no valor de mais de R$ 4 mil. Além disso, os estudantes têm
direito a uma viagem por ano ao Brasil, nos período de férias escolares
da Universidade de Salamanca.
Da vida boa que agora tem na Europa, Vasconcelos sente falta apenas
de um determinado item que não foi contemplado pela bolsa. "O cuscuz! O
daqui é diferente, é meio branco. Prefiro o de lá [do Nordeste]", brinca
o aluno.
Outro lado
Consultada, a Capes informou que, por enquanto, não há perspectiva
para a extensão do programa ProUni Internacional para outros países.
Sobre o sigilo no processo de seleção dos primeiros grupos, o Governo
Federal informa, por meio do Ministério da Educação, que "de 2010 a
2013, o MEC realizou a seleção desses estudantes do ProUni
Internacional, com base na classificação deles no Enem e levando em
conta os critérios de seleção do ProUni [regular]. A partir de 2014, a
seleção continuou obedecendo aos mesmos critérios, mas passou a ser
feita via Capes".
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