Vinte mil pessoas enchem Tamburello nos 20 anos do adeus a Senna
Tamburello.
Maldita Tamburello. A curva que Ayrton Senna não pôde fazer. Vinte anos
após o acidente fatal do tricampeão em 1º de maio de 1994 no GP de San
Marino, em Ímola, a “curva da morte” foi tomada de vida. Não foram
dezenas, não foram centenas. Nesta sexta-feira, milhares de fãs, de
diversos países, compareceram ao circuito para prestar seu tributo ao
ídolo. Mais precisamente 20 mil, segundo o corpo de bombeiros da comuna.
Após dez mil ingressos terem sido vendidos, os portões tiveram que ser
abertos em razão da multidão do lado de fora, que tentava ansiosamente
entrar para deixar sua homenagem.
Assim que a organização do “Ayrton Senna Tribute” abriu os portões da
pista do Autódromo Enzo e Dino Ferrari, um mar de gente tomou o circuito
e rumou em direção à Tamburello. No muro do acidente, fãs faziam
orações, outros deixavam flores, mensagens, bandeiras do Brasil e
lembranças em memória do tricampeão. Uma pequena criança - Senna sempre
mostrou grande preocupação com os pequenos - deixou seu desenho na grade
atrás do local da batida.
Em seguida, uma cerimônia foi realizada no local. Diversos pilotos
deixaram seus depoimentos. Companheiro de McLaren e grande amigo do
brasileiro, Gerhard Berger lembrou os bons momentos com Senna. Marcaram
presença também a atual dupla da Ferrari, Fernando Alonso e Kimi
Raikkonen, além dos ex-pilotos como Andrea de Cesaris, Jarno Trulli,
Pierluigi Martini, Riccardo Patrese e Emanuelle Pirro.
- Por mais que seja uma ocasião triste, a morte de Ayrton hoje é também
um momento feliz, por lembrarmos dele. Nossa geração teve tantos bons
momentos aqui, corridas, testes. Lembro da muito bem de Ayrton aqui, no
hotel, na pista, nos pits. É fantástico estar aqui de novo. Estou feliz
de estar aqui em respeito a Ayrton Senna e Roland Ratzemberger. E acho
que todos aqui concordamos que Senna foi o melhor piloto de todos os
tempos – disse Berger, respondido com aplausos.
Guiados por Don Sergio Mantovani, o “Capelão dos Pilotos”, os fãs
rezaram o “Pai Nosso”. Na sequência, foi prestado um minuto de silêncio
em homenagem a Senna e também ao austríaco Roland Ratzenberger, morto um
dia antes do brasileiro, durante o treino classificatório. Silêncio
seguido de uma arrepiante salva de palmas. Aos gritos de “Olê, olê, olê,
olá, Senna, Senna”, o público ovacionou Ayrton. Ao fim, a banda marcial
encerrou a cerimônia com o Hino Nacional Brasileiro.
Uma fã italiana chorava copiosamente em frente ao local do acidente:
- É difícil segurar a emoção ao lembrar de Ayrton. Ele foi mais que um
piloto. Ele era uma pessoa fantástica. Um ídolo. O que ele fez ficará
para sempre - disse a torcedora emocionada.
Até franceses, terra de Alain Prost, maior rival de Senna, se renderam
ao talento do brasileiro.
- Ele foi o maior de todos os tempos. Muitos na França reconhecem que
ele foi melhor que Alain. Ayrton era um gênio, Prost, não - admitiu uma
dupla de amigos franceses.
Na multidão, diversos brasileiros orgulhosos do reconhecimento mundial
do ídolo:
- Quando entrei no autódromo, senti um energia muito forte. Um local de
grandes provas e onde um ídolo nosso perdeu a vida. Ele morreu, mas sua
imagem está viva. E vinte anos depois, esse grande evento para
comemorar. É um orgulho ver gente do mundo inteiro. Saber que a gente
tem um grande ídolo que fez seu nome com humildade, sabedoria e muita
garra - disse Dulce Gardin, que mora em Verona.
É o Ayrton Senna do Brasil, da Itália, da França, do mundo.
O "Ayrton Senna Tribute" é organizado pelo site italiano F1Passion, em
parceria com a Câmara Municipal de Ímola e o Instituto Ayrton Senna. A
programação foi aberta com uma missa na Catedral de Ímola, celebrada na
quarta-feira, e segue até o próximo domingo com exposições de filmes,
fotos e carros do tricampeão, desfile de carros antigos, corridas de
kart, etc. Uma mostra exibe carros históricos guiados pelo piloto, como a
McLaren MP4/4 do primeiro título, em 1988. O austríaco Roland
Ratzenberger, vítima de outro acidente naquele fatídico fim de semana,
também é lembrado nas homenagens.
O primeiro dia do evento será encerrado com um jantar beneficente e a
exibição do filme "Ayrton", de Ercole Colombo e Angelo Orsi. No estádio
Romeo Galli, a 44km do circuito, também como parte do evento, será
disputada uma partida de futebol com o “Nazionale Piloti”, famoso time
formado por pilotos e ex-pilotos. Parte da renda do evento será
destinada ao Instituto Ayrton Senna, organização presidida pela irmã do
piloto, Viviane Senna, que ajuda cerca de 2 milhões de crianças pelo
Brasil. Na sexta-feira, a extensa programação prevê corridas de kart na
parte da manhã e à tarde. À noite, o paddock será palco de um show
musical. No sábado, haverá desfiles de carros, visita guiada ao circuito
e a projeção do documentário "Senna", de Asif Kapadia. No último dia,
serão realizadas corridas a pé e de bicicleta pelo traçado, desfile de
carros antigos, além da cerimônia de encerramento.
Homenagens em São Paulo
Fãs de outras partes do mundo também lembram os 20 anos sem o ídolo
brasileiro. Em São Paulo, cidade onde o piloto nasceu e foi sepultado,
fãs se mobilizaram e, em um gesto emotivo, fizeram homenagens no túmulo
localizado no Cemitério do Morumbi. Flores, recados e fotos foram
deixadas diante da placa com o nome do piloto. Após a morte de Ayrton,
houve uma imensa mobilização nas ruas da capital paulista. O velório
durou mais de 22 horas e contou com a presença de cerca de 240 mil
pessoas. O corpo chegou ao Brasil no dia 4 de maio de 1994, mas só foi
enterrado no dia seguinte.
G1
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