Escritor lança HQ Augusto dos Anjos em Quadrinhos, celebrando 130 anos do nascimento e centenário de morte do poeta.
Augusto sem fantasmas
A infância do escritor Jairo Cézar foi
assombrada por um fantasma que puxava as crianças para dentro de um
cacimbão desativado. O nome do fantasma? Augusto dos Anjos. “Minha
família é toda da Usina Santa Helena, no Engenho Pau D'Arco, e minha mãe
não lê Augusto até hoje por causa disso.”
Foi para subverter toda uma mística obscura em torno do poeta que, em
parceria com a ilustradora Luyse Costa, Jairo idealizou a HQ Augusto
dos Anjos em Quadrinhos. A obra, editada pela Patmos (do publicitário
Carlos Alberto de Oliveira, ex-Forma Editorial) tem lançamento agendado
para este mês em João Pessoa e em Sapé.
Em 30 páginas ilustradas com uma versão para as livrarias e outra
voltada para as escolas, a HQ sai em um ano de dupla celebração: os 130
anos do nascimento e centenário de morte de Augusto dos Anjos
(1884-1914). O público-alvo são leitores em formação, crianças entre
seis e dez anos de idade que, segundo o roteirista do álbum, são
afastadas do paraibano do século pelos estereótipos construídos a partir
de sua poesia.
“Augusto não era essa figura mórbida e obscura que pregam”, defende
Jairo, que foi o primeiro diretor do Memorial Augusto dos Anjos, entre
2006 e 2009. "Na infância, ele era uma criança normal, que gostava de
pescar e de brincar. Na idade adulta, era amável e doce, admirado pelos
seus alunos e pelos funcionários com quem trabalhava."
O roteiro de Augusto em Quadrinhos se detém justamente por este
período da infância à idade adulta, tocando inclusive em pontos
espinhosos da biografia controversa do autor do Eu (1912), como o
suposto ódio que nutria pela terra natal (o que ocasionara sua mudança
para Leopoldina, em Minas Gerais, onde até hoje estão os seus restos).
"Ele manifestou o desejo de voltar à Paraíba no leito de morte. As
pessoas que acreditam neste ódio se apegam a um documento lavrado em
1977 pela família, que impede que os restos morais voltem para cá.
Desde a morte de Augusto dos Anjos, Sapé e Leopoldina são cidades irmãs:
a terra em que ele nasceu e a que cuidou de sua memória. Eu acho essa
disputa toda uma bobagem."
A escolha da linguagem dos quadrinhos para tratar de uma história tão
cheia de controvérsias não foi à toa. Vem da própria influência que a
nona arte teve na formação de Jairo e Luyse, além de uma leitura atenta
de indicadores que comprovam o papel das HQs como porta de entrada para o
universo dos livros. "As últimas pesquisas mostram que quase metade dos
leitores infantis dizem que os quadrinhos são sua leitura preferida",
relata Jairo. "Eu mesmo fui um leitor dos quadrinhos que meu pai
comprava para mim quando eu era criança."
O nome da ilustradora Luyse Costa (Anayde Beiriz - Uma Bio
Toda a arte foi feita em São Paulo, onde Luyse trabalha
profissionalmente como ilustradora. "Foi uma coisa totalmente nova para
mim", conta Jairo Cézar, que se comunica com a parceira por telefone,
e-mail e Facebook. "Senti muita falta de sentar em uma mesa e tomar café
com ela".
A oportunidade virá este mês: Luyse tem viagem marcada para João
Pessoa no próximo dia 12 e fica na Paraíba até o dia 22. Os dois estão
tentando agendar o lançamento da HQ para este intervalo.
Com Tiago Germano?/jpb
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