Negativa de extradição de Pizzolato é 'derrota' da Justiça brasileira, diz Janot
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, admitiu nesta
quarta-feira (29) que a decisão da Justiça italiana de negar a
extradição do ex-diretor do Banco do Brasil Henrique Pizzolato foi uma
"derrota" para o Judiciário brasileiro e mostra os graves problemas do
sistema carcerário do país.
"O sistema carcerário brasileiro não é um bom perfil e ontem tivemos uma
derrota judicial no pedido de extradição do senhor Pizzolato na Itália
exatamente por esse fato", afirmou.
Janot disse que a decisão sobre a extradição de Pizzolato pode abrir um
precedente "muito perigoso" para o Brasil de "não conseguir mais
extraditar ninguém da comunidade europeia". "A estratégia da defesa foi
explorar presídios que na verdade são enxovias [masmorra, calabouço]
mesmo", afirmou Janot.
Em audiência na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado,
Janot reiterou que o governo brasileiro vai recorrer da decisão e
aguarda apenas a publicação do acórdão para elaborar o recurso.
Para o procurador, embora a Justiça italiana tenha reconhecido as teses
jurídicas do Brasil para a extradição, negou o pedido com base nas más
condições dos presídios para enviar Pizzolato ao Brasil.
"O único fato que foi obstáculo à extradição foi o sistema carcerário
brasileiro, em que ali se afirmou que existe a potencialidade do
descumprimento de direitos humanos no cumprimento de penas de réus. Por
esse motivo, o Judiciário italiano entendia em negar o pedido de
extradição. O Estado brasileiro deve recorrer disso."
Na opinião de Janot, os problemas no sistema carcerário do país devem
ser enfrentados "por todos nós", e não apenas pelo Judiciário. "É um
sistema, os senhores conhecem, que demanda atuação preponderante dos
governos estaduais, e de forma supletiva do governo federal", disse aos
senadores.
Janot negou que a negativa de extradição de Pizzolato seja retaliação ao
governo brasileiro de conceder asilo político ao italiano Cesare
Battisti, que vive legalmente no Brasil.
"Foi uma longa negociação com a Justiça italiana, o Ministério Público
italiano, o Ministério da Justiça da Itália, e nunca, em momento algum,
esse problema foi levantado. Jamais foi discutido sobre isso. O que eles
têm interesse é que eventualmente em casos tópicos é que se proceda a
reciprocidade. Isso o Brasil se compromete a fazer."
Após deixar o presídio de Módena (norte da Itália) na noite desta
terça-feira (28), Pizzolato se tornou homem livre na Itália após a
decisão da Justiça do país europeu.
No recurso, os brasileiros vão salientar que os locais indicados para
Pizzolato cumprir a pena –Papuda (Brasília), Curitibanos e Canhanduba
(Santa Catarina)– são totalmente adequados, sem a possibilidade de os
presos serem submetidos a condições desumanas e degradantes.
Janot compareceu espontaneamente à CCJ do Senado para apresentar o
relatório anual das atividades do Ministério Público Federal. O
procurador assumiu o cargo há um ano, em substituição a Roberto Gurgel,
quando foi sabatinado pelos membros da comissão.
ELEIÇÕES
Na audiência, o procurador defendeu a aprovação de uma "ampla" reforma
política para solucionar problemas que se mostraram graves nas eleições
deste ano, como a troca de acusações entre os candidatos nas redes
sociais.
"Na visão do procurador-geral, nenhuma ofensa faz bem à democracia. Ao
contrário, faz muito mal. O processo político, democrático, propõe
convivência de divergências. Isso tem que acontecer para aprimorar a
própria sociedade brasileira. O consenso nacional é a necessidade de uma
reforma política."
O procurador aproveitou a audiência para pedir aos senadores a aprovação
de emenda, no Orçamento de 2015, que aumenta repasses para o Ministério
Público. "Quem não chora, não mama", disse.
Folha Online
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