Pivô de gravações, delator Machado teve atuação parlamentar discreta
Pivô de um dos maiores escândalos recentes de Brasília, o
ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, exerceu mandatos de deputado
federal e senador pelo Ceará na década de 1990, antes de comandar o
braço logístico da Petrobras por mais de 13 anos.
De poucos discursos na tribuna, Machado agia mais nos
bastidores e pouco aparecia. Parlamentares contemporâneos dele no
Congresso Nacional ouvidos pelo G1 consideram que tinha um “perfil apagado” e uma atuação “pouco expressiva”.
Empresário, Machado se filiou ao PMDB em 1986 e iniciou sua trajetória política pelas mãos do ex-governador do Ceará Tasso Jereissati
(PSDB). Foi coordenador da campanha do tucano e secretário de Governo
no primeiro mandato de Jereissati como governador (de 1987 a 1990).
O cargo o projetou para disputar uma vaga na Câmara, onde se elegeu, já pelo PSDB, para a legislatura de 1991 a 1994. No ano seguinte, foi eleito senador.
Com trânsito no PSDB e no PMDB, Sérgio Machado se converteu atualmente no homem cujas gravações são motivo de apreensão para políticos de vários partidos.
Diálogos gravados por ele já derrubaram um dos principais ministros do presidente da República em exercício, Michel Temer (PMDB): o senador Romero Jucá (PMDB).
Também vieram à tona áudios que implicam o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o ex-presidente José Sarney (PMDB-AP).
Alvo da operação Lava Jato, o ex-presidente da Transpetro fechou um acordo de delação premiada com
a Procuradoria Geral da República em que detalha a sua participação no
esquema de corrupção da Petrobras. O conteúdo dos seus depoimentos,
porém, ainda está sob sigilo.
Procurado pelo G1, Sérgio Machado informou,
por meio de sua assessoria de imprensa, que não iria se manifestar neste
momento e tampouco comentaria a sua atuação como parlamentar.
Atuação parlamentar
Nos quatro anos em que foi deputado federal, Machado se manifestou somente oito vezes da tribuna do plenário, algumas delas apenas para fazer apartes, conforme levantamento no sistema da Câmara. Entre as matérias de seu interesse havia, principalmente, temas ligados à economia.
Nos quatro anos em que foi deputado federal, Machado se manifestou somente oito vezes da tribuna do plenário, algumas delas apenas para fazer apartes, conforme levantamento no sistema da Câmara. Entre as matérias de seu interesse havia, principalmente, temas ligados à economia.
O deputado Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR), que está no sétimo
mandato na Câmara, diz nem se lembrar da passagem de Sérgio Machado pela
Casa.
“Nem sabia [que foi deputado]. Se esteve por lá, era bem
inexpressivo, sem nenhuma expressão. Nunca ouvi falar desse cara. Porque
em 1991 eu era líder do PMDB, fui para o PST e no final do mandato fui
para o PSDB. Eu era líder do processo de impeachment contra o Collor.
Mas esse cara nunca vi, não. Não lembro de nenhum discurso”, afirmou.
No Senado, o senador Roberto Requião (PMDB-PR), parlamentar na
mesma época de Machado, contou que o colega tinha “um perfil apagado” e
disse não lembrar de discurso algum de Machado no plenário da Casa.
“Não me lembro de um discurso do Sérgio Machado. Não lembro de
nenhuma participação mais ativa. Ele tinha um perfil apagado, não era um
senador notável”, afirmou.
Requião disse que, naquela época – fim da década de 1990 e
início dos anos 2000 –, Machado “não tinha características de corrupção”
e parecia “um bom sujeito”.
Outro senador contemporâneo de Sérgio Machado e que preferiu
não ser identificado relatou que ele agia mais na articulação do que na
tribuna de discursos.
“Ele atuava mais nos bastidores, era mais articulador. Não era de discursos. Era mais conciliador”, disse.
Registros de pronunciamentos disponíveis no portal do Senado
reforçam a lembrança dos parlamentares sobre a baixa frequência com que
Machado subia à tribuna.
No período de oito anos entre 1995 a 2002, segundo dados do
Senado, Machado fez 93 pronunciamentos na tribuna da Casa, o que resulta
em uma média de menos de um discurso por mês. No mesmo período, o
ex-senador gaúcho Pedro Simon (PMDB-RS), por exemplo, fez 410
pronunciamentos, quatro vezes mais.
Nas poucas vezes em que subiu à tribuna do Senado, Machado
defendeu a instituição da Contribuição Provisória sobre Movimentações
Financeiras (CPMF), em 1996, prestou homenagens a personalidades
cearenses e defendeu propostas da reforma política.
Além disso, fez pronunciamento pedindo o apoio de colegas de
Senado ao projeto de lei de sua autoria que queria regulamentar a
utilização de caminhões “paus-de-arara” como transporte alternativo de
pessoas.
Governo do Ceará
Na época em que foi secretário de governo de Tasso Jereissati, segundo políticos do Ceará, Sérgio Machado era conhecido como o “Todo-Poderoso” do governo do tucano.
Na época em que foi secretário de governo de Tasso Jereissati, segundo políticos do Ceará, Sérgio Machado era conhecido como o “Todo-Poderoso” do governo do tucano.
Em 2002 e já de volta ao PMDB, ele disputou o cargo de
governador nas eleições de 2002 e ficou na terceira colocação, com
12,12% dos votos. Não chegou a disputar o segundo turno, quando Lúcio
Alcântara (PSDB), teve 50,04% dos votos e venceu, com placar apertado,
José Airton (PT), que ficou com os outros 49,96%.
Segundo um integrante da cúpula do PMDB no Senado, Machado não recebeu apoio dentro do partido no Ceará naquelas eleições.
“Ele não foi muito bem tratado na campanha. Dizem que houve um rompimento, mas, na verdade, ele nunca foi próximo”, disse ao G1.
De acordo com o mesmo peemedebista, Sérgio Machado abandonou a
política cearense depois de derrotado. “Ele nunca mais foi a encontro de
partido ou participou de campanha política”, contou.
Transpetro
Aliado do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL),
Machado assumiu a presidência da Transpetro em 2003, no início do
governo Lula, por indicação política do PMDB.
No período em que ficou na subsidiária da Petrobras, colocou em
prática o Programa de Modernização e Expansão da Frota, com encomenda
de 49 novos navios para transporte de combustíveis, inicialmente orçado
em R$ 4,4 bilhões.
O programa previa a obrigatoriedade de construção dos navios no
Brasil e fixava uso mínimo de componentes nacionais. Isso o ajudou a
reaquecer o setor naval no Brasil, algo que era frequentemente
comemorado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pela
presidente afastada Dilma Rousseff. Entretanto, houve atraso na entrega
de navios, que acabaram custando mais caro que o previsto inicialmente.
Após a chegada de Dilma à Presidência da República, a Petrobras passou por mudanças.
Diretores foram substituídos e, na presidência da estatal,
Dilma colocou Maria das Graças Foster no lugar de José Sérgio Gabrielli.
Machado, entretanto, foi mantido na Transpetro como indicado do PMDB.
Em novembro de 2014, a Transpetro anunciou a licença de Machado da presidência da subsidiária, em princípio, por 31 dias.
A licenção foi motivada pelas denúncias de corrupção na
Petrobras e após pressão da empresa PwC (PricewaterhouseCoopers), que
exigiu o afastamento do executivo como condição para assinar a auditoria
de um balanço da estatal.
Em fevereiro de 2015, Machado pediu demissão do cargo de presidente da Transpetro.
G1
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