Almeidão troca festa de 39 anos por luto
Aniversário de 39 anos do Estádio Almeidão é marcado pelo acidente que vitimou um torcedor do Auto Esporte no domingo (9).
Phelipe Caldas
A partida entre Auto Esporte e Sousa entra
para a história do futebol paraibano. Não por valer a liderança do
Campeonato Paraibano ou pelo aniversário de 39 anos do Almeidão,
comemorado justamente no domingo. E sim pela trágica morte do torcedor
Tibério Barreto, que caiu no fosso enquanto comemorava o gol de empate
do Auto, marcado já nos acréscimos da partida.
A morte do torcedor, confirmada horas depois no Hospital de Trauma, foi a terceira já registrada no Almeidão.
As informações sobre esta parte negativa da história do Almeidão
foram confirmadas pelo atual administrador do estádio, Haroldo Navarro,
que desde a década de 1980 já ocupou em várias oportunidades a função.
"Estamos todos muito tristes. Perdemos uma vida humana e isto é ruim
independente do incidente ter acontecido no dia do aniversário do
Almeidão. Para mim, particularmente, a situação é ainda mais dolorosa
porque eu sou torcedor do Auto Esporte", lamentou Haroldo.
Sobre as outras duas mortes registradas no Estádio Almeidão, Haroldo
Navarro explica que a primeira aconteceu ainda durante as obras de
construção do Almeidão, na década de 70, quando um dos operários não
resistiu a um acidente de trabalho.
Já a segunda, registrada no início da década de 1990, aconteceu numa
época em que ele também era o gerente do estádio. Segundo ele, um homem
embriagado caiu no fosso do estádio quando tentava sair do local, com o
jogo já finalizado e quando todos os torcedores já tinham deixado o
Almeidão.
Navarro lembra que o corpo só foi encontrado no dia seguinte, quando
funcionários do estádio foram limpar o local e encontraram o homem.
Já o secretário estadual de Esportes, Tibério Limeira, disse que
haveria uma reunião com os engenheiros da Suplan para definir se algo
pode ser mudado em relação ao projeto de reforma - que atualmente não
contempla mudanças no fosso, e sim mais alguns centímetros na grade de
proteção que separa a arquibancada do gramado.
PARA MP MORTE FOI FATALIDADE
O procurador Valberto Lira, do Ministério Público da Paraíba (MPPB),
declarou ontem que a morte do torcedor Tibério Barreto, depois de cair
no fosso do Estádio Almeidão, não passou de uma “triste fatalidade” e
que ninguém pode ser responsabilizado por isto.
Ele descartou, assim, que não vai pedir nenhuma punição aos
responsáveis pelo estádio e pelo Campeonato Paraibano, e descartou ainda
solicitar a interdição da praça esportiva.
"Não se pode atribuir a outra coisa se não a uma fatalidade.
Não tem sentido interditar o Almeidão, porque todas as normas e todas
as exigências foram respeitadas no jogo. O público era reduzido,
apenas um lado foi aberto e a segurança era adequada. O que aconteceu
foi um acidente", declarou o procurador.
A Polícia Militar também se posicionou sobre a morte do professor
Tibério Barreto. Segundo o capitão Bruno Rodrigues, comandante do
policiamento da partida, "se alguém teve culpa nesse acidente,
infelizmente foi o próprio torcedor".
Ele tratou o incidente como sendo uma "fatalidade" e usou o termo
"tragédia" para resumir o caso, mas ponderou que o torcedor só caiu no
fosso porque, na hora do gol de seu time, ele subiu na grade de proteção
que separa a arquibancada do fosso.
"Foi uma fatalidade. Excesso de emoções. Quando o Auto Esporte marcou
o gol, ele e outros torcedores correram arquibancada abaixo. Foi
quando ele subiu na grade. E vieram outros torcedores, que bateram
nele. O torcedor acabou desequilibrando e caiu".
FAMÍLIA FALA DE AMOR PELO AUTO
“Um automobilista apaixonado desde criança”. Foi assim que o
sobrinho de Tibério Barreto, o estudante Oselmar Neto, definiu o
professor que morreu na madrugada desta segunda-feira no Hospital de
Emergência e Trauma da Paraíba, após cair no fosso do Almeidão durante
jogo de seu time do coração contra o Sousa, pelo Campeonato Paraibano.
A tragédia aconteceu um dia antes de o professor apresentar a defesa
de sua dissertação no mestrado de Filosofia, que aconteceria nesta
segunda-feira na Universidade Federal da Paraíba.
Tibério, inclusive, é de uma geração que viu o Auto Esporte ser
campeão, algo que não acontece há 22 anos. Segundo o sobrinho Oselmar
Neto, o amor de Tibério pelo Auto é de família, já que o pai do
professor também era torcedor automobilista e passou o seu amor pelo
Alvirrubro para o filho.
"Meu avô era automobilista e passou essa paixão para ele. Ele sempre
foi apaixonado. Estamos tristes, mas ao mesmo tempo conformados, pois
sabemos que ele morreu feliz, comemorando o gol do Auto", disse Oselmar.
Oselmar Neto contou também que o domingo foi de festa para Tibério
Barreto, pois ele conseguiu juntar o grupo de amigos que ia com ele para
o Almeidão na época do título de 1992. Ele afirmou que foi um dos dias
mais felizes para o tio.
"Todo mundo se juntou na casa dele já pela manhã. Ele estava tão
feliz. Saímos em três carros para o Almeidão e no dele foram só os
amigos que acompanharam o título junto com ele.
O filho dele também estava no estádio e torce para o Auto Esporte", concluiu Oselmar Neto.
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